Emprego Científico em Portugal Desafios e Oportunidades
Emprego Científico em Portugal Desafios e Oportunidades

Emprego Científico em Portugal Desafios e Oportunidades

O emprego científico é uma expressão que se refere às oportunidades de trabalho direcionadas a profissionais ligados à ciência, à investigação e ao desenvolvimento tecnológico. Em Portugal, a realidade do emprego científico tem sido alvo de debate, dado o seu impacto direto no progresso social, económico e tecnológico do país. A valorização da carreira científica, os desafios laborais enfrentados pelos investigadores e as políticas públicas implementadas para garantir uma trajetória profissional estável e sustentável são temas centrais desta discussão. Neste artigo, exploraremos em profundidade o panorama atual do emprego científico em Portugal, os principais obstáculos e as oportunidades de evolução para os profissionais da área.

O panorama atual do emprego científico em Portugal

Ao longo da última década, Portugal tem realizado investimentos significativos na área da ciência e inovação, impulsionado pela necessidade de acompanhar as tendências globais de desenvolvimento sustentável e digitalização. No entanto, o emprego científico nacional enfrenta ainda várias limitações que comprometem a sua vitalidade e atratividade junto da nova geração de investigadores.

O sistema científico português é, em grande parte, sustentado por universidades e centros de investigação públicos. Estes organismos acolhem milhares de investigadores, desde bolseiros de doutoramento a cientistas seniores. Ainda assim, muitos dos contratos existentes são de curta duração, com ausência de uma carreira científica consolidada e estruturada. Esta situação contribui para a existência de um ambiente precário para os profissionais da ciência, com implicações negativas na produtividade, motivação e retenção de talento.

Um dos principais mecanismos de acesso ao emprego científico em Portugal é através de concursos promovidos por entidades como a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Programas como o Emprego Científico Individual e os concursos para Investigador Júnior ou Sênior visam incentivar a contratação de investigadores por instituições científicas. No entanto, esses concursos são altamente competitivos e normalmente oferecem um número limitado de posições, o que dificulta a integração de todos os investigadores doutorados no sistema nacional.

Além da limitação do número de contratos, há também o problema relacionado com a instabilidade contratual: muitos investigadores vivem longos períodos da sua carreira com contratos precários, bolsas ou estágios pós-doutoramento com financiamento externo, que não garantem direitos laborais plenos. Isso tem causado um enfraquecimento significativo na atratividade da carreira científica frente a outras profissões com maior estabilidade e reconhecimento social.

Recentemente, foram feitas tentativas legislativas e políticas para melhorar a situação do emprego científico. A criação da carreira de investigador e técnico científico no seio das instituições públicas de I&D pretende instaurar uma estrutura semelhante à carreira docente universitária. No entanto, a aplicação prática destas medidas tem encontrado resistências orçamentais e administrativas que atrasam a sua concretização.

No setor privado, o emprego científico ainda é insipiente em Portugal. Apesar de algumas empresas tecnológicas e farmacêuticas integrarem investigadores nas suas equipas, o setor empresarial português carece de uma cultura científica consolidada. Isto limita a transferência de conhecimento da academia para a indústria e reduz as oportunidades de inovação e valorização de competências científicas em contextos não académicos.

Desafios e estratégias para a valorização do emprego científico

Se o objetivo nacional é caminhar para uma economia baseada no conhecimento, o fortalecimento do emprego científico deve ser encarado como uma prioridade estratégica. Para isso, é necessário enfrentar uma série de desafios estruturais e promover políticas públicas eficazes e duradouras.

1. Estabilização das carreiras científicas

O primeiro passo passa por garantir condições contratuais justas, com contratos de trabalho que ofereçam segurança e progressão na carreira. Isso implica a concretização plena da carreira de investigador, com financiamento adequado e critérios claros de avaliação e promoção. Também é essencial combater o uso excessivo de bolsas em situações que deveriam corresponder a vínculos laborais, assegurando que os investigadores têm acesso a direitos sociais e laborais plenos.

2. Ampliação das saídas profissionais fora da academia

Uma das críticas recorrentes à estrutura de emprego científico em Portugal é a sua excessiva dependência da academia. Para mudar este cenário, é necessário promover a empregabilidade científica em setores económicos diversos, como as indústrias tecnológicas, farmacêuticas, energéticas e ambientais. A criação de incentivos fiscais e programas de cooperação entre empresas e centros de investigação pode ser uma forma eficaz de fomentar a integração de investigadores nestes contextos.

3. Financiamento sustentado para a investigação

Sem financiamento estável e suficiente, não é possível promover o crescimento do emprego científico. O investimento público em I&D deve aumentar de forma progressiva e sustentada, acompanhando os padrões europeus. Além disso, é fundamental diversificar as fontes de financiamento com o apoio a projetos europeus (ex.: Horizonte Europa) e o estímulo a parcerias público-privadas.

4. Reconhecimento e valorização social da carreira científica

A valorização do emprego científico também passa pelo reconhecimento social da sua importância. Os investigadores devem ser vistos como peças chave da inovação e do desenvolvimento. Para isso, é essencial comunicar à sociedade o impacto da ciência na melhoria da qualidade de vida, na saúde pública, na segurança ambiental e no progresso económico.

5. Mobilidade e internacionalização

O incentivo à mobilidade internacional pode enriquecer significativamente a carreira científica e criar redes colaborativas mais eficazes. No entanto, a mobilidade deve ser uma escolha e não uma imposição decorrente da falta de oportunidades internas. O regresso de cientistas portugueses formados no estrangeiro deve ser promovido através de programas nacionais de retorno e integração.

6. A importância da avaliação e do mérito

Finalmente, a profissionalização do emprego científico depende também de uma cultura de mérito e avaliação transparente. Os concursos e progressões devem basear-se na qualidade da produção científica, no impacto social da investigação e na capacidade de liderança dos investigadores. Um sistema justo e meritocrático é essencial para atrair e manter os melhores talentos.

O futuro do emprego científico em Portugal exige uma abordagem integrada, onde universidades, centros de investigação, empresas e governo atuem em conjunto com o objetivo de consolidar uma carreira científica viável, atrativa e estratégica. Trata-se de um investimento não apenas na ciência, mas no futuro coletivo do país.

O emprego científico é um pilar essencial para o desenvolvimento económico, social e tecnológico de Portugal. Apesar dos desafios enfrentados, a consolidação de uma carreira científica estável e valorizada está ao alcance, desde que haja vontade política, compromisso institucional e reconhecimento da sua importância. Valorizar os investigadores é, em última análise, investir no progresso e na soberania do conhecimento nacional.